O tempo

O tempo é passageiro
Mais do que o pensamento
Acerca do próprio tempo

Os dias passam voando
Como pássaros ao horizonte
Mas os pássaros param
O tempo não

Faça frio ou faça sol
Estejamos bem ou estejamos mal
O tempo não está nem aí
Se o acompanhamos ou não

Eis então os maiores desafios
Fazer do tempo um grande amigo
Ressignificar segundo por segundo
Da ampulheta que rege o mundo

Pois o tempo também constrói
No fim de tarde eis o pôr do sol
Uma obra de arte nos céus
Fim também é conclusão

Se no instante houver mágoas
E das mágoas fotos rasgadas
O tempo aperta a saudade
Reconstrói a boa amizade

O tempo nos floresce
Nos presenteia com flores
E ainda que haja espinhos
Não deixam de ser flores

Quão peculiar ensinamento
Onde o tempo nos diz não
E este é melhor que o sim

Pois no fim, o segredo da vida
É não temer a brevidade
Mas viver instante por instante
Como uma breve eternidade

Diego Rodrigues Silva Aguiar
© Todos os Direitos Reservados

Infindável mundo da descoberta

Luminária ao canto esquerdo, escrivaninha envernizada e ambiente meia luz. De minha parte, olhar enigmático, todos aqueles detalhes já eram habituais, exceto um título dentre todos os outros na estante, que a princípio incomodará. Não me contive, precisava saciar aquela angústia e descobrir o que tinha por trás da capa em brochura, e logo folheando os poemas, as horas tornaram-se minutos, e a velha poltrona o espaço favorito da casa.

Perdi-me no tempo e chorei momentos que não faziam parte da minha história, mas não se engane, o ficcional não construirá percepções fantasiosas da realidade, pelo contrário, risos de singelos momentos, lágrimas de indecisão; desisto ou enfrento? Mas claro, não anulei a fantasia, incomparável sensação de voar sobre terras e mares, de ser livre dos fardos do mundo real.

Após o caos da descoberta e da construção do ser, me deparo com o desafio da vida: Suportar a realidade! A alma prossegue vazia (ainda que saciando os prazeres), quebro as regras do Estado? Álcool e amores sem compromisso? Não descarto as possibilidades, porém, incomparável êxtase em confeccionar o mundo, me encontro cheio de ideias, desejos de revolução, histórias de amor, meu quadro é terminal, meu tratamento: um papel e uma caneta na mão.

Como qualquer outro no ônibus lotado ou estagnado em alguma fila, desejaria dormir por causa do cansaço, mas hoje não, talvez amanhã no vidro embaçado, anulo o sono no prazer de transformar o habitual em poesia. Olho ao redor, provavelmente pensamentos distantes, no passado e no futuro, raramente a presença no hoje, raramente a presença no mundo, meu autorretrato.

Olhos atentos aos detalhes, do tipo jogado na grama olhando as estrelas, fones no ouvido, toques sutis e acentuados ao piano (outrora rock e mpb). As Inspirações surgem durante os mais inusitados momentos do dia, além de valiosos instantes desconexos, aliás, não conseguiria sem quebrar a rotina. Os dias passam, as falanges seguem regendo a expressividade da alma, e o livro na cabeceira da cama aguardando o fim de cada agenda lotada.

Diego Rodrigues Silva Aguiar
© Todos os Direitos Reservados